Não houve consenso sobre o texto de Derrite (foto) e a votação foi adiada para próxima terça-feira. (Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)
Após críticas do Palácio do Planalto, governadores de direita, parlamentares da base e oposição, além de especialistas em Segurança Pública, o relator do Projeto de Lei Antifacção, deputado Guilherme Derrite (PP-SP), apresentou a quarta versão do texto. Mesmo assim não houve consenso e a votação foi adiada para semana que vem. A avaliação do governo é que o texto continua “improvisado”.
Os principais problemas apontados são quanto ao financiamento da Polícia Federal (PF) e à caracterização do crime de “facção criminosa”. Em outra frente, cinco governadores de direita se reuniram com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos -PB), responsável pela indicação do secretário licenciado de Segurança Pública do Estado de São Paulo, e pediram que ele procure integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) para evitar questionamentos judiciais no futuro.
Os chefes dos Executivos estaduais também apelaram para uma negociação prévia com o Senado, para evitar que o texto trave na Casa vizinha. Quanto ao mérito, pediram a redução da maioridade penal e o impedimento de audiência de custódia para reincidentes.
“A discussão se dá no dia a dia. O relator conversou com o governo, conversou com as lideranças, demonstrou maturidade agora pediu para votar na terça-feira. Isso quer dizer que está aberto ao diálogo, à construção política para a melhor proposta na área de Segurança”, disse Motta.
Financiamento
Novos problemas, porém, foram apontados. Em reivindicação sobre o financiamento das atividades da PF, por exemplo, integrantes do Ministério da Justiça apontaram problemas na terceira versão de Derrite. A pasta continua a ver equívoco, porém, no quarto relatório.
Em nota, o ministério havia apontado que o terceiro parecer previa uma destinação genérica dos recursos oriundos de apreensão de bens de traficantes e membros de organizações criminosas para os fundos estaduais ou distritais de Segurança Pública.
O entendimento do governo é que os casos em que a investigação for federal os valores deveriam ser revertidos para fundo que financia as atividades da PF.
Para sanar a discordância, Derrite estabeleceu em seu novo texto que bens apreendidos serão destinado “ao Fundo para Aparelhamento e Operacionalização das Atividades Fim da Polícia Federal (Funapol), quando o delito estiver sendo investigado pela Polícia Federal”.
Técnicos, porém, argumentam que essa verba deveria ser destinada ao Fundo Nacional Antidrogas (Funad), que também financia a PF. Isso porque o Funad recebe recursos do combate ao narcotráfico.
O novo relatório cria ainda o termo “organização criminosa ultraviolenta” para caracterizar o crime de “facção criminosa”. O trecho tenta evitar a sobreposição de leis, uma crítica do Planalto, uma vez que já existe uma legislação que aborda especificamente o crime de organização criminosa.
No novo texto, Derrite definiu como facção criminosa “toda organização criminosa ultraviolenta, milícia privada ou grupo paramilitar, que visa ao controle de territórios ou de atividades econômicas, mediante o uso de violência, coação, ameaça ou outro meio intimidatório, para execução dos crimes tipificados nesta Lei”, diz o texto.
Conforme o projeto, esse crime teria uma pena de 20 a 40 anos de prisão, uma punição bem maior do que a de organização criminosa, de 3 a 8 anos de detenção.
“Tumulto normativo”
Segundo integrantes da articulação do governo, porém, a nova tipificação penal não resolve o problema da confusão entre crimes criada no relatório anterior.
“Esse tumulto normativo poderá beneficiar criminosos investigados em procedimentos já instaurados contra eles”, afirmou o Ministério da Justiça durante a tarde, antes da apresentação da quarta versão do relatório.
Mais cedo, a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, também havia criticado a retirada de trecho sugerido pelo governo das condutas previstas no tipo penal de “facção”. Este ponto também não foi atendido pelo relator. Muitas “falhas” consideradas pelo governo são vistas como fruto do “açodamento” para votar o texto.
Durante a tarde, o deputado Aluisio Mendes (Republicanos-MA), que é policial federal, acompanhou Derrite em parte das reuniões com bancadas de partidos e pediu a ele para que a PF tivesse o fundo preservado.
Governadores de direita também entraram em campo e pediram ao presidente da Câmara para que ajustes fossem feitos no texto. Também defenderam ser necessário ouvir o STF e o Senado antes da votação.
Os chefes dos Executivos estaduais também levaram sugestões de acréscimos ao texto, como impedir a audiência de custódia para reincidentes. Outra reivindicação foi reduzir a maioridade penal. Nenhum dos dois pontos foi atendido na nova versão do texto.
https://www.osul.com.br/guerra-de-interesses-nem-governo-nem-oposicao-endossam-o-projeto-de-lei-antifaccao-entenda/ Guerra de interesses: nem governo nem oposição endossam o Projeto de Lei Antifacção; entenda 2025-11-13
“Os diálogos apontam que o envolvimento funcional não se restringia a Daimler, alcançando outros servidores”, diz a PF. (Foto: PF/Divulgação) Novo relatório da Polícia Federal no âmbito da Operação Sisamnes reforça a suspeita de que servidores do Superior Tribunal de Justiça (STJ) vinculados aos gabinetes dos ministros Isabel Gallotti, Nancy Andrighi e Og Fernandes mantinham …
A decisão afirma que o caso já é público e não está em segredo de Justiça. (Foto: Rosinei Coutinho/STF) O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes julgou prejudicado um pedido feito pela defesa do pastor Silas Malafaia para acessar a íntegra das diligências no caso em que o deputado federal Eduardo Bolsonaro(PL-SP) …
Bolsonaro foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado, sob acusação de liderar uma trama para permanecer no poder. (Foto: Ton Molina/STF) A Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) condenou em 11 setembro Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de …
Um senador governista ponderou que Lula ainda tem cartas para jogar sobre a mesa. (Foto: Ricardo Stuckert/PR) O placar apertado para a recondução do procurador-geral da República, Paulo Gonet, na noite de quarta-feira (12) do Senado, foi interpretado como um recado de insatisfação do grupo ligado ao presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), que deseja …
Guerra de interesses: nem governo nem oposição endossam o Projeto de Lei Antifacção; entenda
Não houve consenso sobre o texto de Derrite (foto) e a votação foi adiada para próxima terça-feira. (Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)
Após críticas do Palácio do Planalto, governadores de direita, parlamentares da base e oposição, além de especialistas em Segurança Pública, o relator do Projeto de Lei Antifacção, deputado Guilherme Derrite (PP-SP), apresentou a quarta versão do texto. Mesmo assim não houve consenso e a votação foi adiada para semana que vem. A avaliação do governo é que o texto continua “improvisado”.
Os principais problemas apontados são quanto ao financiamento da Polícia Federal (PF) e à caracterização do crime de “facção criminosa”. Em outra frente, cinco governadores de direita se reuniram com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos -PB), responsável pela indicação do secretário licenciado de Segurança Pública do Estado de São Paulo, e pediram que ele procure integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) para evitar questionamentos judiciais no futuro.
Os chefes dos Executivos estaduais também apelaram para uma negociação prévia com o Senado, para evitar que o texto trave na Casa vizinha. Quanto ao mérito, pediram a redução da maioridade penal e o impedimento de audiência de custódia para reincidentes.
“A discussão se dá no dia a dia. O relator conversou com o governo, conversou com as lideranças, demonstrou maturidade agora pediu para votar na terça-feira. Isso quer dizer que está aberto ao diálogo, à construção política para a melhor proposta na área de Segurança”, disse Motta.
Financiamento
Novos problemas, porém, foram apontados. Em reivindicação sobre o financiamento das atividades da PF, por exemplo, integrantes do Ministério da Justiça apontaram problemas na terceira versão de Derrite. A pasta continua a ver equívoco, porém, no quarto relatório.
Em nota, o ministério havia apontado que o terceiro parecer previa uma destinação genérica dos recursos oriundos de apreensão de bens de traficantes e membros de organizações criminosas para os fundos estaduais ou distritais de Segurança Pública.
O entendimento do governo é que os casos em que a investigação for federal os valores deveriam ser revertidos para fundo que financia as atividades da PF.
Para sanar a discordância, Derrite estabeleceu em seu novo texto que bens apreendidos serão destinado “ao Fundo para Aparelhamento e Operacionalização das Atividades Fim da Polícia Federal (Funapol), quando o delito estiver sendo investigado pela Polícia Federal”.
Técnicos, porém, argumentam que essa verba deveria ser destinada ao Fundo Nacional Antidrogas (Funad), que também financia a PF. Isso porque o Funad recebe recursos do combate ao narcotráfico.
O novo relatório cria ainda o termo “organização criminosa ultraviolenta” para caracterizar o crime de “facção criminosa”. O trecho tenta evitar a sobreposição de leis, uma crítica do Planalto, uma vez que já existe uma legislação que aborda especificamente o crime de organização criminosa.
No novo texto, Derrite definiu como facção criminosa “toda organização criminosa ultraviolenta, milícia privada ou grupo paramilitar, que visa ao controle de territórios ou de atividades econômicas, mediante o uso de violência, coação, ameaça ou outro meio intimidatório, para execução dos crimes tipificados nesta Lei”, diz o texto.
Conforme o projeto, esse crime teria uma pena de 20 a 40 anos de prisão, uma punição bem maior do que a de organização criminosa, de 3 a 8 anos de detenção.
“Tumulto normativo”
Segundo integrantes da articulação do governo, porém, a nova tipificação penal não resolve o problema da confusão entre crimes criada no relatório anterior.
“Esse tumulto normativo poderá beneficiar criminosos investigados em procedimentos já instaurados contra eles”, afirmou o Ministério da Justiça durante a tarde, antes da apresentação da quarta versão do relatório.
Mais cedo, a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, também havia criticado a retirada de trecho sugerido pelo governo das condutas previstas no tipo penal de “facção”. Este ponto também não foi atendido pelo relator. Muitas “falhas” consideradas pelo governo são vistas como fruto do “açodamento” para votar o texto.
Durante a tarde, o deputado Aluisio Mendes (Republicanos-MA), que é policial federal, acompanhou Derrite em parte das reuniões com bancadas de partidos e pediu a ele para que a PF tivesse o fundo preservado.
Governadores de direita também entraram em campo e pediram ao presidente da Câmara para que ajustes fossem feitos no texto. Também defenderam ser necessário ouvir o STF e o Senado antes da votação.
Os chefes dos Executivos estaduais também levaram sugestões de acréscimos ao texto, como impedir a audiência de custódia para reincidentes. Outra reivindicação foi reduzir a maioridade penal. Nenhum dos dois pontos foi atendido na nova versão do texto.
https://www.osul.com.br/guerra-de-interesses-nem-governo-nem-oposicao-endossam-o-projeto-de-lei-antifaccao-entenda/
Guerra de interesses: nem governo nem oposição endossam o Projeto de Lei Antifacção; entenda
2025-11-13
Related Posts
“Comprei esse processo”; Polícia Federal rastreia diálogos de lobistas vinculados aos gabinetes dos ministros Isabel Gallotti, Nancy Andrighi e Og Fernandes
“Os diálogos apontam que o envolvimento funcional não se restringia a Daimler, alcançando outros servidores”, diz a PF. (Foto: PF/Divulgação) Novo relatório da Polícia Federal no âmbito da Operação Sisamnes reforça a suspeita de que servidores do Superior Tribunal de Justiça (STJ) vinculados aos gabinetes dos ministros Isabel Gallotti, Nancy Andrighi e Og Fernandes mantinham …
Alexandre de Moraes nega pedido de Malafaia em denúncia contra Eduardo Bolsonaro
A decisão afirma que o caso já é público e não está em segredo de Justiça. (Foto: Rosinei Coutinho/STF) O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes julgou prejudicado um pedido feito pela defesa do pastor Silas Malafaia para acessar a íntegra das diligências no caso em que o deputado federal Eduardo Bolsonaro(PL-SP) …
Saiba quais argumentos os advogados de Bolsonaro podem apresentar após sua condenação
Bolsonaro foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado, sob acusação de liderar uma trama para permanecer no poder. (Foto: Ton Molina/STF) A Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) condenou em 11 setembro Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de …
Lula adia indicação para vaga de ministro do Supremo: “Política é paciência, e Lula é um dos mais pacientes”
Um senador governista ponderou que Lula ainda tem cartas para jogar sobre a mesa. (Foto: Ricardo Stuckert/PR) O placar apertado para a recondução do procurador-geral da República, Paulo Gonet, na noite de quarta-feira (12) do Senado, foi interpretado como um recado de insatisfação do grupo ligado ao presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), que deseja …