Um feed zerado não é, necessariamente, sinal de inatividade nas redes. (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Dia após dia, a estudante Milena Rosa Félix, de 18 anos, foi apagando as fotos do histórico de seu Instagram até que ele ficasse completamente vazio. Ela é adepta do “feed zero” ou “grid zero” — uma tendência entre as gerações Z (nascida entre 1997 e 2012) e Alfa (nascida a partir de 2012), na busca por um maior controle sobre sua presença digital.
O que é o ‘feed zero’? Um feed zerado não é, necessariamente, sinal de inatividade nas redes. Na verdade, os mais jovens apenas passaram a privilegiar conteúdos efêmeros, como os stories do Instagram, que desaparecem após 24 horas. Livrando-se dos seus rastros digitais, eles têm mais liberdade para reinventar sua “persona” on-line a todo momento.
“Percebi que as fotos antigas não faziam mais parte da minha personalidade”, diz Milena, moradora de Niterói, que acaba de terminar o ensino médio. “Prefiro não ter nada (no feed), fico com medo de ele não parecer coeso. Postando nos stories de forma espontânea, não preciso me preocupar tanto com a estética do perfil.”
A “estética” em questão não se refere apenas a um feed arrumadinho (com padrões de cores e filtros), mas a uma espécie de narrativa visual, que prenderia o usuário a uma personalidade. Limitando-se aos stories (que ainda têm a opção de close friends, ou seja, só para os melhores amigos), Milena pode curtir o momento, sem se preocupar com o que aquela foto ou aquele vídeo vão significar no futuro.
“Hoje, o jovem não quer ficar marcado por uma coisa só”, diz ele. “Um feed fixo estampa um histórico e vai contra esse desejo de todo dia começar uma história nova.”
Com ideias mudando rapidamente, pode ser arriscado deixar sua opinião “cravada em pedra” nos anais da internet, lembra Luiz Menezes, fundador da Trope, uma consultoria de geração Z que cria soluções de negócios para marcas. No X, é comum ver um meme acompanhando opiniões enfáticas: “Validade deste tweet: 24 horas”.
“Uma vez na internet, sempre na internet, e isso pode assustar muita gente”, diz Menezes. “Entendo que a validade do story, essa ilusão de que em 24 horas o que você postou vai esvair-se, traz um maior conforto. Hoje eu defendo uma opinião, uma narrativa, mas amanhã pode ser diferente.”
O “feed zero” também serve para as gerações Z e Alfa se diferenciarem dos millennials, a geração anterior. Doutor em comunicação pela PUC-RS e pesquisador das gerações Z, Alfa e Beta, Dado Schneider vê o desejo por privacidade como um fator de distinção. Enquanto os millennials usam o feed como vitrine, os mais jovens consideram a superexposição “cringe”.
“Para assumir o seu jeito de ser, as gerações mais novas tendem sempre a negar alguma coisa que a geração anterior faz”, diz ele. “Acho que a maior explicação para o ‘feed zero’ é a geração Z e Alfa achando que os millennials se expõem demais. Exposição virou coisa de gente velha.”
A Meta, empresa controladora do Instagram e do Facebook (as duas plataformas mais usadas no Brasil após o WhatsApp), confirma a mudança, mas reforça que ela não é sinônimo de inatividade on-line:
“Não é que as pessoas não estejam mais postando – elas estão postando de forma diferente”, explicou a empresa em nota. “A geração Z está liderando uma mudança da curadoria de um feed ‘perfeito’ para o compartilhamento em espaços mais efêmeros e privados, como os stories, as notas e as DMs. Mas ainda há postagens no feed, e a tendência de ‘dump’ (sequências aleatórias de fotos) é um bom exemplo disso”.
Muitos adeptos do “feed zero” sequer eram nascidos quando, em 2012, o Snapchat criou o conceito de post efêmero. A rede ganhou milhões de usuários em poucos meses graças à novidade. Mais de dez anos depois, o Snapchat é apenas a 13ª rede social mais usada pelos brasileiros (com 15% do mercado), mas sua funcionalidade passou a ser adotada por praticamente todas as outras plataformas, do X ao WhatsApp. E continua moldando a forma como algumas empresas de tecnologia operam.
“Hoje o consumo de conteúdos efêmeros já supera o de postagens fixas”, diz Corrêa. “Ambos geram entregas bem distintas para empresas e produtores de conteúdo. Em regra, há muito mais concorrência e dificuldade para captar a atenção dos usuários nos conteúdos efêmeros.”
De acordo com Schneider, a efemeridade dos conteúdos reflete a própria era digital, marcada pela rapidez e pela constante alternância entre atividades. “Hoje, tudo é temporário”, diz ele. “Com a revolução dos smartphones, passamos a alternar trabalho, lazer e família com facilidade. Assim como transitamos entre telas e plataformas, nossa vida também se tornou mais efêmera. As coisas não são, elas apenas estão”, reflete.
“Tendo vivido uma era mais ‘romântica’ do marketing, vejo que essa nova forma fragmentada de viver muitas vezes desnorteia as áreas de comunicação das empresas. De repente, surge uma tendência e não há tempo de acompanhá-la. O desafio está maior.” As informações são do jornal O Globo.
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“Percebi que as fotos antigas não faziam mais parte da minha personalidade”, diz Milena, moradora de Niterói, que acaba de terminar o ensino médio. “Prefiro não ter nada (no feed), fico com medo de ele não parecer coeso. Postando nos stories de forma espontânea, não preciso me preocupar tanto com a estética do perfil.”
A “estética” em questão não se refere apenas a um feed arrumadinho (com padrões de cores e filtros), mas a uma espécie de narrativa visual, que prenderia o usuário a uma personalidade. Limitando-se aos stories (que ainda têm a opção de close friends, ou seja, só para os melhores amigos), Milena pode curtir o momento, sem se preocupar com o que aquela foto ou aquele vídeo vão significar no futuro.
“Hoje, o jovem não quer ficar marcado por uma coisa só”, diz ele. “Um feed fixo estampa um histórico e vai contra esse desejo de todo dia começar uma história nova.”
Com ideias mudando rapidamente, pode ser arriscado deixar sua opinião “cravada em pedra” nos anais da internet, lembra Luiz Menezes, fundador da Trope, uma consultoria de geração Z que cria soluções de negócios para marcas. No X, é comum ver um meme acompanhando opiniões enfáticas: “Validade deste tweet: 24 horas”.
“Uma vez na internet, sempre na internet, e isso pode assustar muita gente”, diz Menezes. “Entendo que a validade do story, essa ilusão de que em 24 horas o que você postou vai esvair-se, traz um maior conforto. Hoje eu defendo uma opinião, uma narrativa, mas amanhã pode ser diferente.”
O “feed zero” também serve para as gerações Z e Alfa se diferenciarem dos millennials, a geração anterior. Doutor em comunicação pela PUC-RS e pesquisador das gerações Z, Alfa e Beta, Dado Schneider vê o desejo por privacidade como um fator de distinção. Enquanto os millennials usam o feed como vitrine, os mais jovens consideram a superexposição “cringe”.
“Para assumir o seu jeito de ser, as gerações mais novas tendem sempre a negar alguma coisa que a geração anterior faz”, diz ele. “Acho que a maior explicação para o ‘feed zero’ é a geração Z e Alfa achando que os millennials se expõem demais. Exposição virou coisa de gente velha.”
A Meta, empresa controladora do Instagram e do Facebook (as duas plataformas mais usadas no Brasil após o WhatsApp), confirma a mudança, mas reforça que ela não é sinônimo de inatividade on-line:
“Não é que as pessoas não estejam mais postando – elas estão postando de forma diferente”, explicou a empresa em nota. “A geração Z está liderando uma mudança da curadoria de um feed ‘perfeito’ para o compartilhamento em espaços mais efêmeros e privados, como os stories, as notas e as DMs. Mas ainda há postagens no feed, e a tendência de ‘dump’ (sequências aleatórias de fotos) é um bom exemplo disso”.
Muitos adeptos do “feed zero” sequer eram nascidos quando, em 2012, o Snapchat criou o conceito de post efêmero. A rede ganhou milhões de usuários em poucos meses graças à novidade. Mais de dez anos depois, o Snapchat é apenas a 13ª rede social mais usada pelos brasileiros (com 15% do mercado), mas sua funcionalidade passou a ser adotada por praticamente todas as outras plataformas, do X ao WhatsApp. E continua moldando a forma como algumas empresas de tecnologia operam.
“Hoje o consumo de conteúdos efêmeros já supera o de postagens fixas”, diz Corrêa. “Ambos geram entregas bem distintas para empresas e produtores de conteúdo. Em regra, há muito mais concorrência e dificuldade para captar a atenção dos usuários nos conteúdos efêmeros.”
De acordo com Schneider, a efemeridade dos conteúdos reflete a própria era digital, marcada pela rapidez e pela constante alternância entre atividades. “Hoje, tudo é temporário”, diz ele. “Com a revolução dos smartphones, passamos a alternar trabalho, lazer e família com facilidade. Assim como transitamos entre telas e plataformas, nossa vida também se tornou mais efêmera. As coisas não são, elas apenas estão”, reflete.
“Tendo vivido uma era mais ‘romântica’ do marketing, vejo que essa nova forma fragmentada de viver muitas vezes desnorteia as áreas de comunicação das empresas. De repente, surge uma tendência e não há tempo de acompanhá-la. O desafio está maior.” As informações são do jornal O Globo.
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