Tarcísio Montou acampamento em Brasília para ser o porta-voz da família Bolsonaro. (Foto: Pablo Jacob/Governo do Estado de SP)
A direita e a extrema direita resolveram abdicar da defesa de qualquer agenda para o país em nome de uma campanha em tempo integral pela liberdade de Jair Bolsonaro. Governadores, deputados e senadores trocaram a cobrança por ajuste fiscal e corte de gastos ou a defesa do liberalismo econômico por conchavos na calada da noite por uma anistia que não é desejo da maioria do eleitorado.
Isso certamente terá um preço, ainda mais no momento em que o governo Lula encaixa o discurso de defesa da soberania e dos interesses do povo brasileiro, por mais justiça social e tributária, com a promessa — aliás, atrasada justamente pelas negociações pró-anistia — de menos impostos para quem ganha menos.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, caiu direitinho na arapuca armada para ele por Bolsonaro e pelo filho Eduardo. Montou acampamento em Brasília para ser o porta-voz da família junto ao comando da Câmara. Isso tira dele a aura de político moderado, seu principal ativo junto a amplo espectro de setores econômicos.
A agenda pelas madrugadas da capital federal torna pouco crível o discurso que ele vinha entoando até agora, segundo o qual não pretende ser candidato a presidente. Também tira força do contraponto que vinha buscando fazer entre sua gestão e a de Lula. Afinal, se sua prioridade é fazer reuniões sobre os interesses exclusivos de Bolsonaro em plena quarta-feira, onde ficam as muitas e complexas demandas do estado mais rico do país?
Pior: se a anistia geral não passar, seja porque Davi Alcolumbre conseguirá barrá-la ou porque o Supremo Tribunal Federal a derrubará, Tarcísio ficará associado a uma campanha que, além de ter sido contrária aos interesses da maioria da população e afrontosa ao Poder Judiciário, foi malsucedida. Desgaste demais a troco de absolutamente nada.
Enquanto grande parte dos simpatizantes de uma candidatura de direita espera por saídas para o tarifaço, imposto justamente por obra e graça da família Bolsonaro, em vez de empreender esforços nesse sentido, a bancada e os governadores-candidatos gastam tempo em palanques de manifestações quase semanais em prol de um perdão indefensável diante dos gravíssimos ataques à democracia revelados nos processos do 8 de Janeiro e da trama golpista.
Arthur Lira, relator do projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, está mais dedicado a segurar seus indicados na máquina federal enquanto a federação União-PP faz um desembarque fake do governo e a comandar a tentativa de salve geral para a turma de Bolsonaro.
Hugo Motta, seu sucessor e eterno pupilo, não consegue fazer a pauta da Câmara avançar, pois semana atrás de semana surgem da incubadora do consórcio entre Centrão e PL um ou vários projetos voltados unicamente a livrar a pele dos políticos.
Enquanto a direita patina nesse lodaçal bolsonarista, o governo inunda a TV com a nova campanha publicitária em tom ufanista e nacionalista, cheia de menções nada veladas ao tarifaço, martelando as realizações de Lula voltadas aos mais pobres.
Estava difícil o governo se recuperar do misto de cansaço com a imagem de Lula e falta de ideias e projetos novos. Também não havia sinais de que entenderia a necessidade de cortar gastos de forma consistente. Com isso, se desenhava uma eleição com o presidente em maus lençóis.
Foi quando a operação #FreeBolsonaro atropelou qualquer agenda da direita e deu ao petista a maior chance nos últimos dois anos de retomar o diálogo com o centro (que votou nele meio a contragosto justamente pelos extremismos de Bolsonaro).
Tem mais: os “batalhadores”, aqueles que demonstravam aversão ao governo e simpatia pela narrativa do empreendedorismo, também têm tudo para torcer o nariz quando ficar claro que o obstáculo a que paguem menos imposto não é o PT, mas quem até outro dia dizia estar do seu lado. (Opinião de Vera Magalhães/Jornal O Globo)
https://www.osul.com.br/campanha-pela-anistia-tira-de-tarcisio-de-freitas-a-aura-de-politico-moderado/ Campanha pela anistia tira de Tarcísio de Freitas a aura de político moderado 2025-09-05
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Ele considera que o Supremo tem tomado decisões que cabem ao Congresso Nacional. (Foto: Fabiano Panizzi) O cientista político Fernando Schüler avalia que o Supremo Tribunal Federal (STF) se tornou um “Poder Moderador”, instância da época do Império que tinha a prerrogativa de interferir nos demais Poderes. Ele considera que o Supremo tem tomado decisões …
Expectativa de aliado muito próximo de Paulinho da Força (Solidariedade-SP) é que o parecer do deputado vá à votação no plenário na semana que vem. (Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados) Passado o impacto inicial das manifestações do último domingo (21) e da sanção dos Estados Unidos à mulher do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) …
Dois anos depois, 921 mil domicílios deixaram o programa devido ao aumento da renda. (Foto: Reprodução) Dados do Cadastro Único (CadÚnico), que dá acesso a benefícios sociais do governo, mostram que, nos últimos dois anos, cerca de 14 milhões de pessoas superaram a linha de pobreza no Brasil. A renda considerada no levantamento não inclui …
Campanha pela anistia tira de Tarcísio de Freitas a aura de político moderado
Tarcísio Montou acampamento em Brasília para ser o porta-voz da família Bolsonaro. (Foto: Pablo Jacob/Governo do Estado de SP)
A direita e a extrema direita resolveram abdicar da defesa de qualquer agenda para o país em nome de uma campanha em tempo integral pela liberdade de Jair Bolsonaro. Governadores, deputados e senadores trocaram a cobrança por ajuste fiscal e corte de gastos ou a defesa do liberalismo econômico por conchavos na calada da noite por uma anistia que não é desejo da maioria do eleitorado.
Isso certamente terá um preço, ainda mais no momento em que o governo Lula encaixa o discurso de defesa da soberania e dos interesses do povo brasileiro, por mais justiça social e tributária, com a promessa — aliás, atrasada justamente pelas negociações pró-anistia — de menos impostos para quem ganha menos.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, caiu direitinho na arapuca armada para ele por Bolsonaro e pelo filho Eduardo. Montou acampamento em Brasília para ser o porta-voz da família junto ao comando da Câmara. Isso tira dele a aura de político moderado, seu principal ativo junto a amplo espectro de setores econômicos.
A agenda pelas madrugadas da capital federal torna pouco crível o discurso que ele vinha entoando até agora, segundo o qual não pretende ser candidato a presidente. Também tira força do contraponto que vinha buscando fazer entre sua gestão e a de Lula. Afinal, se sua prioridade é fazer reuniões sobre os interesses exclusivos de Bolsonaro em plena quarta-feira, onde ficam as muitas e complexas demandas do estado mais rico do país?
Pior: se a anistia geral não passar, seja porque Davi Alcolumbre conseguirá barrá-la ou porque o Supremo Tribunal Federal a derrubará, Tarcísio ficará associado a uma campanha que, além de ter sido contrária aos interesses da maioria da população e afrontosa ao Poder Judiciário, foi malsucedida. Desgaste demais a troco de absolutamente nada.
Enquanto grande parte dos simpatizantes de uma candidatura de direita espera por saídas para o tarifaço, imposto justamente por obra e graça da família Bolsonaro, em vez de empreender esforços nesse sentido, a bancada e os governadores-candidatos gastam tempo em palanques de manifestações quase semanais em prol de um perdão indefensável diante dos gravíssimos ataques à democracia revelados nos processos do 8 de Janeiro e da trama golpista.
Arthur Lira, relator do projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, está mais dedicado a segurar seus indicados na máquina federal enquanto a federação União-PP faz um desembarque fake do governo e a comandar a tentativa de salve geral para a turma de Bolsonaro.
Hugo Motta, seu sucessor e eterno pupilo, não consegue fazer a pauta da Câmara avançar, pois semana atrás de semana surgem da incubadora do consórcio entre Centrão e PL um ou vários projetos voltados unicamente a livrar a pele dos políticos.
Enquanto a direita patina nesse lodaçal bolsonarista, o governo inunda a TV com a nova campanha publicitária em tom ufanista e nacionalista, cheia de menções nada veladas ao tarifaço, martelando as realizações de Lula voltadas aos mais pobres.
Estava difícil o governo se recuperar do misto de cansaço com a imagem de Lula e falta de ideias e projetos novos. Também não havia sinais de que entenderia a necessidade de cortar gastos de forma consistente. Com isso, se desenhava uma eleição com o presidente em maus lençóis.
Foi quando a operação #FreeBolsonaro atropelou qualquer agenda da direita e deu ao petista a maior chance nos últimos dois anos de retomar o diálogo com o centro (que votou nele meio a contragosto justamente pelos extremismos de Bolsonaro).
Tem mais: os “batalhadores”, aqueles que demonstravam aversão ao governo e simpatia pela narrativa do empreendedorismo, também têm tudo para torcer o nariz quando ficar claro que o obstáculo a que paguem menos imposto não é o PT, mas quem até outro dia dizia estar do seu lado. (Opinião de Vera Magalhães/Jornal O Globo)
https://www.osul.com.br/campanha-pela-anistia-tira-de-tarcisio-de-freitas-a-aura-de-politico-moderado/
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2025-09-05
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