Paulinho da Força já indicou que seu texto não deve ser chamado de “PL da anistia”, mas sim de “PL da dosimetria”. (Foto: Billy Boss/Câmara dos Deputados)
A designação do deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP) como relator do projeto de lei (PL) da chamada “anistia” abre caminho para a construção de uma saída razoável para um imbróglio jurídico e político do qual o País precisa se desvencilhar. O relator já indicou que seu texto não deve ser chamado de “PL da anistia”, mas sim de “PL da dosimetria”. A distinção é oportuna, pois indica que não haverá um inaceitável perdão para os golpistas condenados, a começar por Jair Bolsonaro, e sim um ajuste das penas aplicadas a indivíduos que, embora tenham praticado atos reprováveis, não podem ser equiparados aos líderes de uma conspiração para subverter a ordem constitucional democrática.
Em condições normais, um arranjo do tipo nem deveria ser discutido, mas se impõe pela constatação, de resto consensual, de que houve exageros no enquadramento penal dos idiotas úteis do 8 de Janeiro. A Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Supremo Tribunal Federal (STF) atribuíram a tipos penais gravíssimos – como golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e associação criminosa armada – condutas que não exigem tal grau de reprovação. O caso de Débora dos Santos, condenada a 14 anos de prisão por ter pichado com um batom a estátua da Justiça em frente ao STF, tornou-se o emblema dessa desproporção.
À luz da gravidade dos crimes contra o Estado Democrático de Direito, as penas atualmente previstas na legislação não são excessivas. O Código Penal prevê de 4 a 8 anos de reclusão para o crime de abolição violenta do Estado Democrático de Direito (art. 359-L) e de 4 a 12 anos para golpe de Estado (art. 359-M). O problema, portanto, está na forma como se interpretou e aplicou a lei em alguns casos. É nesse ponto que o projeto relatado por Paulinho da Força, até onde se sabe, é razoável. Ao propor a revisão da dosimetria, abre-se espaço para corrigir a punição daqueles que foram arrastados – por fanatismo, ignorância ou manipulação – para a razia golpista, de modo a fazê-los cumprir penas proporcionais às suas condutas. São pessoas que, embora responsáveis por seus ilícitos, não podem ser tratadas como artífices de um golpe de Estado.
Não pode haver indulgência para os grandes responsáveis pelo maior ataque à Constituição da Nova República, a começar por Bolsonaro. Em boa hora, Paulinho da Força já indicou que isso está fora de cogitação. Ao que tudo indica, a defesa de uma “anistia ampla, geral e irrestrita” tende a ficar restrita a Bolsonaro, seu partido, o PL, e seus apoiadores cativos aqui e alhures, como o ainda deputado Eduardo Bolsonaro (PLSP). O Brasil precisa virar essa página. O Congresso precisa se concentrar em uma agenda virtuosa para o País. Isso significa dar tratamento jurídico adequado às diferentes responsabilidades pelos atos que culminaram no 8 de Janeiro, sem ceder a pressões do bolsonarismo nem perpetuar distorções penais. A agenda nacional não pode seguir sobrestada em razão de uma pauta que só interessa a Bolsonaro e os radicais que o cercam.
Dos males, portanto, o menor. O “PL da dosimetria” não anula condenações, não absolve culpados e não altera substancialmente a lei penal. Mas permite calibrar a resposta do Estado à trama golpista de modo mais justo, distinguindo os que atentaram contra a democracia daqueles que, embora culpados, foram marionetes de um projeto criminoso de poder. Para ser forte, a democracia deve punir com rigor quem a ataca. Mas também há de ser magnânima. (Opinião/O Estado de S. Paulo)
https://www.osul.com.br/congresso-tem-a-chance-de-costurar-um-acordo-para-corrigir-excessos-na-punicao-dos-que-foram-apenas-massa-de-manobra-dos-lideres-golpistas/ Congresso tem a chance de costurar um acordo para corrigir excessos na punição dos que foram apenas massa de manobra dos líderes golpistas 2025-09-20
“Michelle é um horror. É de baixíssimo nível. Vem de uma família de baixíssimo nível”, disse a ex-parlamentar. Foto: Reprodução “Michelle é um horror. É de baixíssimo nível. Vem de uma família de baixíssimo nível”, disse a ex-parlamentar. (Foto: Reprodução) A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro está movendo uma ação judicial contra a ex-deputada federal Joice Hasselmann, …
Lula participará do Fórum Mundial da Alimentação 2025, em Roma, promovido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, na segunda-feira (13). (Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil) O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou, que o novo nome para ocupar a cadeira deixada por Luís Roberto Barroso no STF (Supremo Tribunal Federal) deverá …
Zambelli volta a constar como titular de mandato e, portanto, sujeita às regras de presença da Casa Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados Zambelli volta a constar como titular de mandato e, portanto, sujeita às regras de presença da Casa. (Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados) Carla Zambelli (PL-SP) deve começar a receber falta nas sessões da …
Representantes da ANMP foram apresentados à equipe de Bolsonaro pelo senador Izalci Lucas (PL-DF), à época recém-eleito. (Foto: Carlos Moura/Agência Senado) A ANMP (Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdência Social) afirmou ter levado ao ex-presidente Jair Bolsonaro informações sobre “desvios, fraudes e irregularidades com o dinheiro público dentro do INSS (Instituto Nacional do Seguro …
Congresso tem a chance de costurar um acordo para corrigir excessos na punição dos que foram apenas massa de manobra dos líderes golpistas
Paulinho da Força já indicou que seu texto não deve ser chamado de “PL da anistia”, mas sim de “PL da dosimetria”. (Foto: Billy Boss/Câmara dos Deputados)
A designação do deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP) como relator do projeto de lei (PL) da chamada “anistia” abre caminho para a construção de uma saída razoável para um imbróglio jurídico e político do qual o País precisa se desvencilhar. O relator já indicou que seu texto não deve ser chamado de “PL da anistia”, mas sim de “PL da dosimetria”. A distinção é oportuna, pois indica que não haverá um inaceitável perdão para os golpistas condenados, a começar por Jair Bolsonaro, e sim um ajuste das penas aplicadas a indivíduos que, embora tenham praticado atos reprováveis, não podem ser equiparados aos líderes de uma conspiração para subverter a ordem constitucional democrática.
Em condições normais, um arranjo do tipo nem deveria ser discutido, mas se impõe pela constatação, de resto consensual, de que houve exageros no enquadramento penal dos idiotas úteis do 8 de Janeiro. A Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Supremo Tribunal Federal (STF) atribuíram a tipos penais gravíssimos – como golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e associação criminosa armada – condutas que não exigem tal grau de reprovação. O caso de Débora dos Santos, condenada a 14 anos de prisão por ter pichado com um batom a estátua da Justiça em frente ao STF, tornou-se o emblema dessa desproporção.
À luz da gravidade dos crimes contra o Estado Democrático de Direito, as penas atualmente previstas na legislação não são excessivas. O Código Penal prevê de 4 a 8 anos de reclusão para o crime de abolição violenta do Estado Democrático de Direito (art. 359-L) e de 4 a 12 anos para golpe de Estado (art. 359-M). O problema, portanto, está na forma como se interpretou e aplicou a lei em alguns casos. É nesse ponto que o projeto relatado por Paulinho da Força, até onde se sabe, é razoável. Ao propor a revisão da dosimetria, abre-se espaço para corrigir a punição daqueles que foram arrastados – por fanatismo, ignorância ou manipulação – para a razia golpista, de modo a fazê-los cumprir penas proporcionais às suas condutas. São pessoas que, embora responsáveis por seus ilícitos, não podem ser tratadas como artífices de um golpe de Estado.
Não pode haver indulgência para os grandes responsáveis pelo maior ataque à Constituição da Nova República, a começar por Bolsonaro. Em boa hora, Paulinho da Força já indicou que isso está fora de cogitação. Ao que tudo indica, a defesa de uma “anistia ampla, geral e irrestrita” tende a ficar restrita a Bolsonaro, seu partido, o PL, e seus apoiadores cativos aqui e alhures, como o ainda deputado Eduardo Bolsonaro (PLSP). O Brasil precisa virar essa página. O Congresso precisa se concentrar em uma agenda virtuosa para o País. Isso significa dar tratamento jurídico adequado às diferentes responsabilidades pelos atos que culminaram no 8 de Janeiro, sem ceder a pressões do bolsonarismo nem perpetuar distorções penais. A agenda nacional não pode seguir sobrestada em razão de uma pauta que só interessa a Bolsonaro e os radicais que o cercam.
Dos males, portanto, o menor. O “PL da dosimetria” não anula condenações, não absolve culpados e não altera substancialmente a lei penal. Mas permite calibrar a resposta do Estado à trama golpista de modo mais justo, distinguindo os que atentaram contra a democracia daqueles que, embora culpados, foram marionetes de um projeto criminoso de poder. Para ser forte, a democracia deve punir com rigor quem a ataca. Mas também há de ser magnânima. (Opinião/O Estado de S. Paulo)
https://www.osul.com.br/congresso-tem-a-chance-de-costurar-um-acordo-para-corrigir-excessos-na-punicao-dos-que-foram-apenas-massa-de-manobra-dos-lideres-golpistas/
Congresso tem a chance de costurar um acordo para corrigir excessos na punição dos que foram apenas massa de manobra dos líderes golpistas
2025-09-20
Related Posts
Michelle Bolsonaro processa Joice Hasselmann e quer censurar vídeo com a ex-deputada federal bolsonarista
“Michelle é um horror. É de baixíssimo nível. Vem de uma família de baixíssimo nível”, disse a ex-parlamentar. Foto: Reprodução “Michelle é um horror. É de baixíssimo nível. Vem de uma família de baixíssimo nível”, disse a ex-parlamentar. (Foto: Reprodução) A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro está movendo uma ação judicial contra a ex-deputada federal Joice Hasselmann, …
Lula deve decidir sobre vaga no Supremo após voltar da Itália, diz ministro da Justiça
Lula participará do Fórum Mundial da Alimentação 2025, em Roma, promovido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, na segunda-feira (13). (Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil) O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou, que o novo nome para ocupar a cadeira deixada por Luís Roberto Barroso no STF (Supremo Tribunal Federal) deverá …
Termina a licença de Carla Zambelli e deputada deve começar a levar faltas
Zambelli volta a constar como titular de mandato e, portanto, sujeita às regras de presença da Casa Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados Zambelli volta a constar como titular de mandato e, portanto, sujeita às regras de presença da Casa. (Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados) Carla Zambelli (PL-SP) deve começar a receber falta nas sessões da …
Bolsonaro foi alertado, durante a transição de governo, de irregularidades e fraudes no INSS, dizem peritos
Representantes da ANMP foram apresentados à equipe de Bolsonaro pelo senador Izalci Lucas (PL-DF), à época recém-eleito. (Foto: Carlos Moura/Agência Senado) A ANMP (Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdência Social) afirmou ter levado ao ex-presidente Jair Bolsonaro informações sobre “desvios, fraudes e irregularidades com o dinheiro público dentro do INSS (Instituto Nacional do Seguro …